Construindo leitores
Texto publicado originalmente em 04 de junho de 2012 em meu blog (Poeta Jorge Henrique), depois que recebemos a visita de Evando Santos, o homem-livro, em Nossa Senhora da Glória. Eis o início de tudo:
“Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão”.O operário em Construção
(Vinícius de Moraes, 1956)
No poema em epígrafe, o poeta Vinícius de Moraes descreve a trajetória de um operário – um pedreiro – que, a partir de sua própria condição existencial inicia um processo de tomada de consciência de seu lugar dentro do perverso modelo de produção econômica e social que o oprime. Esse pedreiro, à medida que vai construindo sua consciência política e emergindo da mais absoluta alienação, começa a desvelar os mecanismos opressores da sociedade capitalista e assume uma postura de resistência, por meio de palavras e ações. Diz “não” à opressão, não se curva às violências que lhe são infligidas por causa de sua atitude e decide incentivar os demais operários a se emanciparem.
Hoje venho falar a vocês de um operário como esse, o pedreiro Evando Santos, que esteve em Nossa Senhora da Glória – SE entre os dias 30 de maio e 02 de junho, e que, entre outras atividades, proferiu uma palestra na câmara de vereadores para um pequeno público de grande entusiasmo.
Empilhando tijolos e erguendo casas, devorando letras e acumulando livros, Evando disse “sim” ao conhecimento e se foi construindo um ávido leitor dos clássicos e um aficionado bibliófilo. Com suor, cimento e letras, fez-se homem emancipado, consciente, e, reconhecendo a transformação que os livros produziram em sua vida, decidiu agir: transformou a própria casa numa biblioteca comunitária. Resistindo a todas as circunstâncias que o pressionavam a resignar-se à condição imposta pelo senso comum, o pedreiro decidiu construir leitores e se dedicou firmemente a essa ideia.
Resultados de sua ação?
Foi essa a semente que ele veio lançar em terras glorienses. Em sua profícua conversa com alguns poetas da terra, relatou suas conquistas, realizações e projetos. Descreveu, sobretudo, as ações de incentivo à leitura e de valorização da cultura local, que vem promovendo à frente da biblioteca que fundou na Vila da Penha. Seu entusiasmo e determinação contagiaram a todos.
Dizia Hannah Arendt que não são as ideias que provocam mudanças no mundo, mas as ações. Assim, a semente está lançada, agora é o momento de agirmos, para que as mudanças aconteçam. Um fruto já começou a germinar: a possibilidade de se criar uma Academia Gloriense de Letras, que também possa atuar construindo leitores e, consequentemente, novos escritores na Capital do Sertão.